quarta-feira, 18 de março de 2009

Clodovil parte, mas deixa sua marca...

Sempre quando ouvia falar de Clodovil, me transportava para minha adolescência e as imagens que me vinham à mente eram as do início dos anos 80 quando ele estreou um quadro sobre moda no programa "TV Mulher", na rede Globo.

Como eu gostava daquele programa! Marcou o início de minha juventude. "Recém saído" da alta costura, Clô, como gostava de ser chamado, começou a ganhar projeção desde então ao lado de outros jornalistas como Marília Gabriela, Xênia Bier, Nei Gonçalves Dias,... com muito humor, determinação e ousadia.

Eu o achava tão inteligente, corajoso, antenado (naquela época ainda não tinha este termo), apesar de ser muito "cheio de si". E o que mais me chamava a atenção era a forma como ele tratava bem a sua mãe adotiva, era muito grato à ela diante das câmeras e, segundo ele, era a sua única razão de viver.

Clodovil Hernandes nasceu em 17 de junho de 1937 em Elisiário, interior de São Paulo e não conheceu os pais biológicos. Foi criado por imigrantes espanhóis que o adotaram ainda bebê. Quando criança, estudou em um colégio interno mantido por padres católicos.

Como estilista , ele se tornou um dos ícones da moda nos anos 70. Conquistou muitos amigos e inimigos, pois não tinha "papas na língua". Em 1976, ganhou notoriedade após ganhar o prêmio máximo no programa "8 ou 800?" respondendo perguntas sobre Dona Beja e começou a ingressar na TV.

Antes de ser o apresentador ferino e o político extravagante, Clodovil foi um dos principais estilistas brasileiros.
Quando começou sua carreira, nos anos 50, a moda não era nada disso que se vê hoje. Segundo Gloria Kalil, Não existia o prêt-à-porter, essa facção do design feito em escala industrial, mas ateliês, que criavam roupas exclusivas e sob medida, às vezes luxuosas. E, Clodovil colocou um pouco de brasilidade na "alta costura" do país. "Ele acrescentou uma irreverência e um humor que não existiam", diz ela.
Depois da Rede Globo, Clodovil passou por quase todas as TVs abertas como apresentador de programas de variedades ou voltados para o público feminino. Em seus quadros, sempre realçava a importância da mulher se manter elegante, independente da classe social. "Quando Clodovil apareceu, era ainda a época das roupas mais clássicas, que ele fazia muito bem", diz a consultora de moda Costanza Pascolato, que conheceu o estilista no início dos anos 60. Ela conta que, naquela época, ele dividia com Dener a preferência das mulheres da elite brasileira.
O estilista Clodovil Hernandez posa ao lado de modelos que vestem sua grife da coleção Primavera-Verão, em 1971

Os anos foram passando e ele nunca parou, apesar de sair por aí "dando as alfinetadas" pelos caminhos da vida. É muito difícil falar sobre quem partiu, ainda mais em se tratando de uma pessoa como Clodovil, que apesar de ter sido polêmico e glamouroso, numa vida cheia de autos e baixos, mas que não deixou sua vida passar em branco com uma carreira marcada pela moda, TV e política (conseguiu quase 500 milhões de votos).

Para muitos, a postura de Clodovil diante da vida surpreendia. Com o seu jeito, sua maneira de encarar a vida e lidar com as mais diversas situações. Ele não tinha medo de dizer o que pensava e falava sem rodeios. No fundo, era admirado por sua maneira de ser. Conquistou fama não apenas pelo talento na alta costura, mas também pela figura peculiar e diversas polêmicas.
Na segunda-feira (16), Clodovil foi encontrado desmaiado em seu apartamento em Brasília. Em seguida, foi levado para o Hospital Santa Lúcia já em coma. Ele teve morte cerebral na tarde desta terça-feira (17), não resistiu aos efeitos de um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico.
Agnaldo Timóteo, cantou ao lado do caixão e disse que "Jesus Cristo foi extremamente generoso porque não permitiu que nós estivéssemos hoje dando carinho para um Clodovil na cama doente. Chegou a hora dele" e, "Já pensou Clodovil em uma cadeira de rodas, com toda sua vaidade?", declarou o vereador, mais tarde.
Hoje, uma das maiores amigas de Clodovil ficou durante muito tempo ao lado do caixão e falou sobre os seus vários talentos, que era um homem com muitos atributos. Se despediu dizendo que "Ele deixa uma saudade muito grande, do tamanho de sua historia."

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