sábado, 29 de agosto de 2015

Olhar embevecido



Por Edelba Carvalho
Hoje no finalzinho da manhã, já bem próximo do meio dia,  saindo de uma agência bancária, me chamou a atenção a figura de  menino, parado bem ao lado da porta.
Estava em pé, estático, com a mão esquerda apoiada no  parapeito de um alambrado de segurança que separa a saída principal da saída para a garagem.
 Engraçado que ele estava de costas para mim, mas  caminhando, ao ver a sua figura, foi como se um ímã atraísse o  meu olhar, pois quando passei por ele, fui compelida a olhar do lado  e observar a sua pessoa.
Era um garoto magro, de feições singelas, olhos grandes, moreno claro, de cabelos pretos e dentes grandes, largos e bem  brancos.
Trajava moletom vermelho apagado pelo uso, com mangas não tão longas como deveriam estar, e calça escura, meio tipo pula-brejo, daquelas que se passa do irmão mais velho para o mais novo, sapatos surrados pelo uso. Porém, as roupas bem limpas e  passadas e sapatos em ordem. 
Estava ali inerte, quem sabe esperando a mãe que fora lá raspar o restinho de uma poupança para uma necessidade urgente?
Ou quem sabe, esperasse pelo pai que lá dentro tentava um empréstimo para um fim determinado?
Quem sabe?
Mas o que realmente me prendeu a atenção não foi o seu vestir e muito menos o seu calçar, nem ao mesmo o fato dele estar  ali, mas sim o seu olhar.
 Ele tinha um olhar absorto, totalmente embevecido!
Olhava fixo para um ponto perdido no nada.
Quase quis acompanhar o seu olhar, para tentar descobrir o  que tanto lhe deslumbrava.
Era um olhar atento, esperançoso, desejoso, sonhador, daqueles que faz a boca se abrir e congelar em forma de um quase  sino!
Um olhar encantado, daqueles que a gente fica, com os olhos distantes...
Um olhar enlevado, daqueles que a gente fica, quando sonha acordado...
Um olhar extasiado, daqueles que a gente fica, quando algo chama a nossa atenção, e nos convida a viajar...
Ao longo da vida, infelizmente muitas vezes perdemos esse olhar.
O menino e o seu olhar!
Um olhar embevecido!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015