segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Gatinha Internauta (seria "Gatanauta"?)

A Curiosidade talvez matou o gato;
o mais provável foi um azar lamentável,
ou o gato curioso quis conhecer a morte,
sem motivo para lamber as presas,
ou conceber ninhada na ninhada dos gatinhos,
como era plausível.
No entanto, ser curioso é muito perigoso.
Suspeitar do que sempre é dito, do que parecia,
ter dúvidas estranhas,
impedir a fantasia,
Sair de casa, farejar ratos,
ter rações não estima gatos para sociedades de cães onde cestas asseadas,
esposas educadas e boas refeições são a ordem das coisas,
e onde imperioso é o abanar de cabeças e caudas incuriosos.
Admita. Curiosidade Em si não nos mata –Mas sua falta é fatal.
Nunca querer avistar o outro lado do canal
ou aquele país inverossímil onde viver é formidável (talvez seja detestável)
para nós seria letal.
Somente os curiosos têm, se vivem,
uma lenda para contar no final.
Cães dizem que os gatos amam demais,
são inconstantes são mutantes,
casam com várias queridas desertam seus filhos,
esfriam todos os jantares com contos de nove vidas.
Bom, eles são felizardos.
Que tenham nove vidas e sejam contrários,
curiosos o bastante para mudar,
preparados para o preço do gato,
que é morrer e morrer a cada momento,
sem que atenue o sofrimento.
Uma minoria de um é tudo o que restapara contar a verdade.
E o que os gatos contam cada vez que do inferno retornam
É isto: que a morte é o destino dos viventes,
Que a morte é o destino dos amantes,
E que cães mortos são os que não sabem
Que para viver, só a morte é relevante.

Alastair Reid Trad. Virna Teixeira, do livro: Ovelha negra, uma antologia de poesia da Escócia do Século XX (bilíngüe), Lumme Editor, 2007, SP
Obs.: com a permissão da tradutora.

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