sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Garota Uniban

O assunto está rendendo desde 22 de outubro passado, quando a estudante de turismo Geizy Villa Nova Arruda, 20 anos, foi hostilizada por cerca de 700 colegas no Campus da Uniban (Universidade Bandeirantes) em São Bernardo do Campo, SP. Motivo: ela usava um vestido curto, o que teria motivado a agressão dos colegas.

Geisy Arruda e seu vestido, hostilizada por seus colegas na Universidade, expulsa e readmitida pela Uniban, é destaque dentro e fora do país durante as últimas semanas. Ficou conhecida no país inteiro. Os debates envolvem os mais variados temas: machismo, intolerância, pedagogia, certo e errado,...

MEC (Ministério de Educação e Cultura), Grifes, mídias impressas e televisivas, rádio, internet,... já passou bem mais que o conhecido termo "15 minutos de fama" para alguém que deseja se projetar. Ela tem sido disputada por programas de TVs, sondada para posar nua, para estrelar um anúncio de uma marca de lingerie e estrelar papel principal em filme erótico.

O assunto se transformou numa reação em cadeia e trouxe à baila, manuais de estilo que proíbem o uso dos minis em ambientes acadêmicos e de trabalho. Por outro lado, o modelito despertou um animado movimento em defesa da minissaia que repercutiu nos blogs espalhados pela internet e entre os criadores de moda.

Os microvestidos saem dos armários e invadem as ruas de SP e as passarelas européias. Até look do estilista Marc Jacobs, batizado de "primo rico" igual ao "Vestido Geisy" foi reapresentado (havia desfilado em passarelas dias antes na Europa) e, além dele, outros modelos em várias publicidades, com tons pink, tem surgido como sugestões para enfrentar as festas de fim de ano para curtir, impactar ou simplesmente protestar.

Gilberto Dimenstein escreveu em "Muito além de uma Minissaia" (Cotidiano, Folha, no domingo, 15/11) de forma bem abrangente que "existe um novo poder no país, com especial intensidade nas regiões metropolitanas . Talvez isso explique parte da repercussão do escândalo: classes C e D serão, muito em breve, maioria nas universidades".

Segundo ele, o que "chama a atenção é o contexto em que surge Geizy: o do crescimento veloz das matrículas dos mais pobres no ensino superior é mais veloz do que se imagina". E completa que "a Uniban pode estar muito longe do topo de qualidade de ensino, mas Geizy, ao ser expulsa, transmitiu a sensação de que tinha perdido uma chance de futuro, embora nem seu curso se destaque nos rankings do MEC, nem ela tenha demonstrado ser uma aluna aplicada".Formadores de opinião são unânimes em afirmar que Geisy, a "Universitária do Microvestido" conseguiu um milagre: juntou todo o mundo em sua desefa e na condenação dos alunos que a insultaram e, depois, à universidade que quis puní-la. E Gilberto acrescenta em seu artigo que "ela se celebrizou pelos dotes físicos, mas quem ouviu com atenção suas entrevista, viu que soube defender com propriedade seus direitos - é a esperteza de quem junta capacidade de articulação com as dificuldades cotidianas".

Para ele, "Um universitário, por mais pobre que seja, aumenta seu padrão de consumo ao tomar contato com mais informações." E, "... em geral eles demonstram mais garra do que os mais ricos, dispondo-se a trabalhar de noite e estudar de dia. Saem perdendo não só por causa do repertório educacional e cultural, mas especialmente pela falta de uma rede de contatos...".

E conclui "Carregado de expectativas, esse pessoal vai fazer cada vez mais barulho. Tanto quanto Geizy com sua minissaia".

"Produto de luxo é aquele no qual paga-se mais pela marca do que pelo produto em si" - André Cauduro D´Angelo, prof. da PUC-RS e autor do livro "Precisar, Não Precisa".

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