quinta-feira, 22 de abril de 2010

Israel, Sob o Olhar de um Correspondente...

Mudar de bairro, cidade, país, sempre desperta a curiosidade. Tudo é novo, diferente...

Na reportagem, o correspondente Ari Peixoto conta curiosidades de sua adaptação em Jerusalém, Israel.



"Morar em Jerusalém é como estar sempre perto, ou dentro, de um privilegiado cartão postal.


Por exemplo, da minha casa, vejo a igreja da Dormição, onde segundo a tradição cristã, está enterrada a Virgem Maria. Lá, a mesquita do Domo da Rocha, onde de acordo com o livro sagrado do islamismo, o profeta Maomé subiu aos céus. Ou, ainda, segundo a tradição judaica, foi onde o rei Salomão construiu o primeiro templo, mil anos antes de Cristo...


No fim da tarde, o canto dos moezim enche os ares, chamando os muçulmanos para a reza. Os sinos das igrejas convocam os cristãos... É quando o sol deita sua cor avermelhada sobre a branca Jerusalém. É isso, a cidade é branca, construída com as chamadas "pedras de Jerusalém".


Pedras que contam história.Na Cidade Velha e suas imponentes muralhas, a tradição e a modernidade lado a lado: o lojista recita o corão, o jovem navega na internet...


Cada religião tem o seu espaço, o seu quarteirão... Sempre cheios...Mas o que sempre impressiona na Cidade Velha, mesmo pra quem já vive há algum tempo em Jerusalém, é que no meio dessa babel de sons, cheiros e línguas, a gente sente a energia de estar pisando em locais onde, há milhares de anos, cristãos, judeus e muçulmanos vêm pisando, em tempos de paz ou de guerra.


Por exemplo, nós estamos na terceira estação da Via Dolorosa ou Via Sacra, onde segundo a tradição cristã, Jesus caiu pela primeira vez enquanto carregava a cruz. E isso aconteceu nessas pedras... São elas as testemunhas dos tempos bíblicos.


A família e os amigos aí no Brasil sempre me perguntam sobre a comida... A tentação, pelo menos no meu caso, são os doces. Todos calóricos, doces árabes feitos à base de mel, pistache, avelãs, nozes.Fazer compras no supermercado não é nada fácil...


Vivendo aqui há alguns meses já é possível falar ou entender algumas palavras em hebraico; números, por exemplo, não é tão difícil...


Agora, ler é mais complicado.Por exemplo, a gente sabe que o tomate é o símbolo do supermercado, mas qual a oferta que está escrita? Meio complicado... É claro que algumas coisas mais óbvias, embalagens que têm fotos, por exemplo, a gente consegue entender, como uma caixa de biscoitos.


Bom, e na hora de experimentar aqueles produtos que são tipicamente locais, como, por exemplo: molhos, pastinhas... Não tem nenhuma foto, só o rótulo em hebraico.


Então o que é que a gente faz? Compra no escuro, leva para casa e, se gosta, com a ajuda da tecnologia a gente consegue comprar de novo. Fotografamos e aí na hora de comprar de novo traz a fotografia pro supermercado e a gente consegue comprar e levar pela segunda vez.


Uma das coisas a que a gente demora um pouco a se acostumar quando vem morar em Israel, particularmente em Jerusalém, é que entre o por do sol da sexta-feira e o por do sol do sábado, boa parte da cidade fica com ruas vazias, comércio fechado.


É o Shabbatt, o sábado, o dia religioso para os judeus e diferentemente da nossa semana, a deles recomeça amanhã, domingo. Tudo vai estar aberto, inclusive escritórios e bancos também.


Para gente é confuso: a sexta-feira acaba ficando com a cara do nosso sábado. Tudo funciona meio que pela metade.


Do lado oriental de Jerusalém, o lado árabe como chamamos, na sexta-feira, tudo amanhece fechado também porque é o dia de descanso dos muçulmanos.


Já a noite de quinta-feira parece sexta, com bares e restaurantes lotados. A gente encontrou até ortodoxo na folia... E, claro, brasileiro com saudade de casa. Já o domingo é dia útil, um dia de trabalho normal.


Só os cristãos têm direito a dar uma escapadinha para ir à missa, mas depois tem que voltar ao batente.Como bom carioca, uma das coisas de que mais sentia falta quando fui correspondente na Argentina era do mar. A praia mais próxima de Buenos Aires fica em Mar Del Plata, 300 quilômetros de distância e uma água fria de doer.


Aqui não, o Mediterrâneo tem águas verdes, claras, quentes e a praia mais próxima da minha casa em Jerusalém é a Rishom Lezion, 40 minutos dirigindo, nada a que eu já não esteja acostumado.


Algumas cenas da cidade ainda provocam estranhamento, como ver jovens de 18, 19, 20 anos, que estão no serviço militar obrigatório, passeando com suas armas como se fossem mochilas pelas ruas da cidade. Numa cidade que já viveu ondas de atentados suicidas, a vigilância é permanente".

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