terça-feira, 20 de março de 2012

Clarice Lispector, uma Mestra de Detalhes

Como não conhecer a escritora Clarice Lispector? Os sites de mensagens inspiradoras e as redes sociais espalham e compartilham dezenas de frases atribuídas à ela, geralmente acompanhadas de fotos e músicas românticas. Sua fanpage no Facebook, por exemplo, tem mais de 160 mil seguidores - Só para dar uma ideia, a do cantor Roberto Carlos tem cerca de 16 mil - Nem sempre, no entanto, as frases foram de fato retiradas dos livros, das entrevistas ou das colunas femininas que Clarice escrevia para jornais, nos quais assinava com os pseudônimos de Tereza Quadros e Helen Palmer.


Foto: Reprodução
Clarice Lispector, 1920-1977 - Escritora


Mas a beleza da sua arte está acima desses traços de mulher bonita, pois Clarice dominava o universo feminino e partia dele para falar da sua experiência de mundo. “Ela priorizou protagonistas mulheres, mas na obra da Clarice, essas mulheres ganham uma dimensão universal que toca nas entranhas do humano”, afirma Yudith Rosembaum, professora de literatura brasileira na Universidade de São Paulo e autora, entre outros, do perfil “Metamorfoses do Mal – uma leitura de Clarice Lispector” (Edusp).


“As pessoas gostam de máximas e Clarice tinha mesmo essas frases sentenciosas. Os textos dela tocam em aspectos importantes da condição humana, mergulham naquilo que temos de melhor e de pior no campo das relações pessoais, afetivas, sentimentais e dos valores éticos”, ressalta Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de "Clarice Fotobiografia" (Imprensa Oficial).


“Muitas das personagens de Clarice estão ligadas a vida doméstica, a ambientes internos e familiares. É uma escritora do feminino", afirma Yudith. “Mas esse feminino pode ser vivido por um homem. A importância da obra da Clarice não está só ligada ao fato dela ter falado de e para mulheres.


Em pleno século 21, seus contos e romances continuam dissecando o desamparo do ser humano”, diz a professora. “É um olhar histórico da mulher aprisionada em casa, mas que tem caráter universal, mesmo fora dessas condições sócio-econômicas. Confesso que até alguns anos atrás pensava que Clarice era lida mais por mulheres. Hoje acho que não. Afinal, o mergulho nas profundezas da alma humana pode feito por qualquer um”, afirma Nádia.


Principais obras: A Hora da Estrela (1977) e A Paixão segundo G.H. (1964).



“O maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma”, de "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres".

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