A
elite não suportava mais a nobreza. Só alguns tinham acesso ao controle
político do Estado. Tinham perdido a supremacia econômica uma vez que a elite
plebeia se enriqueceu com o comércio, a agricultura e as guerras. Por isso ela
optou por derrubar o rei e proclamar um novo regime onde todos tivessem
acesso iguais ao Estado. Ou coisa pública. Ou res publica, em latim. A nossa conhecida república. Contudo ao longo do tempo ao invés de acesso igualitário às
leis do Estado, a elite patrícia substituiu os alguns de antigamente pelos alguns atuais. Assim, trocaram uma aristocracia por outra, ainda que o
nome mudasse de monarquia para república. Coube a uma parte enriquecida dos
plebeus movimentar o povo para pressionar que as oportunidades, de fato, fossem
iguais para todos. Houve guerra civil, mortes, populismo, manipulação de
informações, ditaduras, surgimento do tribuno da plebe até que a república
romana foi destruída e substituída pelo império. Novamente o poder e o Estado
estava à disposição só de alguns. A lei também.
Alguns
tinham acesso aos títulos de nobreza, podiam votar e ser eleitos senadores. O
Império brasileiro foi fundado por alguns. Estes, até o final do Século 19, se
constituíram em uma aristocracia que dominava totalmente o Estado. Graças a
isso conseguiram empurrar o fim da escravidão negra para o final do século e
se tornar o último pais americano a fazê-lo. Além disso ergueram a coluna
da monocultura do café e assentaram a economia sobre ela. Um perigo, qualquer
abalo poderia pôr tudo abaixo, como de fato ocorreu em 1930. O imperador
não percebeu que alguns militares apoiados por alguns
latifundiários e por alguns elementos urbanos queriam trocar o regime de
alguns para todos, ou república. Esta não honrou sua essência, ficou nas mãos
de uns poucos da oligarquia cafeeira até o desastre do café. O populista e
futuro ditador Getúlio Vargas era uma promessa que finalmente a lei seria igual
para todos e finalmente a república seria proclamada no Brasil. Não foi bem
assim, alguns dominaram à sombra do ditador até 1945.
Esta
não é mais uma jabuticaba brasileira. É um fenômeno global. No entanto é coisa
nossa reservar os privilégios para uns poucos como o foro privilegiado onde os
acusados são julgados só quando os crimes prescrevem. Alguns poucos tem o
direito de nomear fiscais para os ministérios e alguns poucos conseguem encher
o porta malas de picanhas e hamburguers. Uns poucos usam e abusam dos jatinhos
da FAB e com isso fogem do constrangimento de serem vaiados nos aeroportos ou
mesmo dentro dos aviões de carreira. Uns poucos conseguem isenção nas
contribuições previdenciárias sob o pretexto que hospitais de luxo e
universidades da elite são filantrópicas, Alguns poucos tem desoneração
tributária o que garante o lucro de seus acionistas. Alguns poucos trafegam em
carrões oficiais, com vidros escuros a caminho da feira livre ou
levar o filho para a escola. Uns poucos ainda conseguem se expor e almoçar ou
jantar, ou ambos, nos restaurantes da moda. Tudo pago por todos.
Heródoto Barbeiro é âncora do Jornal da
Record News e autor de vários livros
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