Conta a lenda que um sapo
foi colocado em uma panela. Levada ao fogão e a água começou a esquentar. O
sapo não se apercebeu. A água ferveu e o sapo não conseguiu se salvar de ser
cozinhado na panela. Certamente se a panela já estivesse com a água
fervendo de forma alguma o simpático batráquio teria ousado tomar uma sauna em
tão inóspito ambiente. Isto é uma alegoria que esconde a diferença entre as
mudanças lineares, gradativas e as exponenciais, geralmente desruptivas.
Imagine o seu atual computador em 2030. Se ele existir até lá e não for atropelado
por uma quantidade de novos gadgets, custaria mais barato que o atual. Sua
capacidade operacional seria de aproximadamente de um bilhão de GB. Se ele
tivesse sido concebido trinta anos antes, sua capacidade inicial seria de 1GB.
Como pode ter aumentado tanto em tão pouco tempo? É que sua capacidade de
memória não cresceu de forma linear, mas exponencial. Geralmente essas mudanças
quantitativas provocam mudanças qualitativas. E vice versa, uma vez que ocorre
uma interatividade entre elas.
A Revolução Industrial
sofreu pelo menos quatro revoluções. Uma revolução dentro da outra. No final do
século 18 o uso do vapor e da água como fontes de energia comercial, acelerou o
processo da mudança do modo de produção de pré- capitalista para capitalista
com o advento da mão de obra assalariada concentrada nas cidades e a
propriedade privada do modo de produção industrial. Um século depois, 1870, o
advento da energia elétrica proporcionou a produção em massa, as linhas
de montagens industriais e aprofundou a divisão do trabalho. O mais belo
exemplo é o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Ente uma e outra
disrupção na produção de energia houve, obviamente, mudanças lineares como o
motor de combustão interna, diesel e gasolina, e o acirramento das disputas dos
mercados mundiais pelos países industrializados. Disso resultou no imperialismo
que desaguou a primeira catástrofe da Grande Guerra. Na década de 70 do século
20 é a vez da automação das fábricas, o uso do computador dirigindo grandes
máquinas e o desenvolvimento linear que se sucedeu. Gradativamente chegaram os
robôs, a digitalização e outros avanços técnicos.
O século 21, com sua nova
revolução industrial, trouxe no bojo, a destruição criativa. É verdade que esse
fenômeno é tão antigo como a chegada dos bondes nas cidades e o fim dos
carroceiros. Os cavalos foram aposentados. Ou abatidos. Contudo ele foi
turbinado por uma evolução tecnológica exponencial. O reflexo social é o
desemprego estrutural, em massa. Parte da força de trabalho se vê ameaçada cada
vez que uma noticia sobre avanço tecnológico é divulgada. Até agora não se sabe
se os novos empregos, gerados em outras atividades, serão ou não suficientes
para receber os órfãos da tecnologia. De um lado uma paisagem cada vez mais
nítida, profunda, instigante. De outro uma paisagem de desconfiança, descontrole
e insegurança. A história tem mostrado que não volta atrás. Mudanças podem ser
represadas até um determinado momento, quando explodem a barragem, e
levam tudo de roldão, como a de Mariana, em Minas. Nesse novo quadro de
conflito percebe-se que se enfraqueceram os sindicatos de trabalhadores e o
Estado. O que vem depois da próxima curva ninguém sabe, mas não deve ser nada
lúdico.
Heródoto Barbeiro é escritor, jornalista e âncora da
RecordNews e R7.com
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